Projeto do Instituto Igarapé mostra numerosos avanços no continente

As reformas em políticas de drogas ganharam destaque no último ano, mesmo com o crescimento da retórica populista em vários países das Américas. Dos EUA ao Canadá, do Brasil a Trinidad e Tobago, alterações em especial no que diz respeito ao uso da cannabis – medicinal ou não – ainda dão sinais de vitalidade. Apesar de a pandemia de COVID-19 ter freado as discussões/mudanças sobre drogas sintéticas e opióides, há um grande número de avanços em leis relacionadas à cannabis: os EUA viram mais dois estados regulamentarem o cultivo e no Brasil a Anvisa autorizou a produção (ainda que os insumos precisem ser importados) e venda de remédios com base de cannabis nas farmácias.

Foram mapeadas mudanças como o desmantelamento de cortes de drogas (que julgam e condenam usuários a tratamentos obrigatórios) e a regulação de maconha para uso adulto, pontos nos quais as Américas são destaque. A descriminalização, a despenalização do consumo e a adoção de penas alternativas ao encarceramento também chamam a atenção como iniciativas inovadoras, em particular no Caribe.

No Caribe, no último ano, houve desde a ampla regulação do cânhamo em Antígua e Barbuda até a formação de uma comissão para propor uma reforma em Santa Lúcia. No Colorado, primeiro estado nos EUA a legalizar a produção e venda de maconha para uso adulto, o panorama é de consolidação das empresas do setor. Dos 50 estados americanos, o uso adulto está regulamentado em 11 e o uso medicinal em 33. No Canadá, que completou um ano de regulação do uso adulto, os números desmentem o lugar comum: o consumo caiu drasticamente entre estudantes de Ensino Médio, e tampouco se intensificaram os acidentes de trânsito.

No Brasil, apesar do cenário altamente desfavorável ao avanço do tema no governo federal – que deve inclusive influenciar novos adiamentos do Recurso Extraordinário 635659 (ação do STF que retira o consumo de drogas da esfera criminal) – as mudanças promovidas pela Anvisa parecem ter iniciado uma onda de tentativas de avanços a nível estadual: além do Rio de Janeiro, que aprovou uma regulação ampla para pesquisas, projetos de lei que regulamentam a cannabis medicinal foram propostos no Rio Grande do Sul e no Mato Grosso. Se esta tendência se confirmar, será uma mudança paradigmática na condução da política brasileira, já que o Brasil não tem um histórico de diferenças radicais em legislações no nível estadual.

É importante ressaltar, no entanto, que houve poucos avanços nas Américas com relação a não criminalização do porte e do uso de outras drogas, que não a cannabis. A América do Norte vive uma acentuada crise relacionada ao consumo de opióides, em particular do uso de fármacos obtidos legal ou ilegalmente, e ainda vemos movimentos governamentais irregulares para diminuir os danos causados por essas drogas.

Essas e outras informações atualizadas, desmembradas e detalhadas por países, com foco nas alterações em seus marcos legais, estão na nova versão do Monitor de Políticas de Drogas nas Américas, uma ferramenta inédita e interativa do Instituto Igarapé sobre política de drogas divulgada hoje. O monitor está disponível em português, inglês e espanhol.

O site conta com uma linha do tempo que destaca os principais eventos que aconteceram nas últimas décadas em relação à política de drogas. Enquanto na área da justiça criminal ainda há muito a ser feito, avanços importantes foram conquistados nos âmbitos político e de saúde. Analisando essa ferramenta do tempo, percebe-se que quase todos os países melhoraram o acesso ao tratamento para usuários e a regulamentação de cannabis medicinal. Porém, ainda falta descriminalizar o consumo de drogas e regular mercados ilícitos – reformas na área de justiça criminal.

Quem acessar a ferramenta, também pode descobrir através de um quiz qual país tem uma política de drogas mais semelhante à sua posição pessoal e compartilhar o resultado em suas redes sociais. Também está disponível um glossário completo para sanar dúvidas sobre termos técnicos usados por especialistas no tema.

O monitor é atualizado pela equipe do Igarapé periodicamente. A ideia é que o site seja uma fonte permanente de informações para jornalistas, acadêmicos, estudantes, gestores públicos, membros de outras organizações e outros interessados no assunto.

ACESSE O MONITOR DE POLÍTICAS DE DROGAS DAS AMÉRICAS: https://politicadedrogas.novo2025.igarape.org.br/

Sobre o Instituto Igarapé

O Instituto Igarapé é um think and do tank independente, dedicado à integração das agendas de segurança, clima e desenvolvimento. Nosso objetivo é propor soluções e parcerias a desafios globais por meio de pesquisas, novas tecnologias, influência em políticas públicas e comunicação. Somos uma instituição sem fins lucrativos, independente e apartidária, com sede no Rio de Janeiro, mas cuja atuação transcende fronteiras locais, nacionais e regionais. Premiada como a melhor ONG de Direitos Humanos no ano de 2018, o melhor think tank em política social pela Prospect Magazine em 2019 e considerada pelo Instituto Doar, pelo segundo ano consecutivo, como uma das 100 melhores organizações brasileiras do terceiro setor.

www.novo2025.igarape.org.br

Para entrevistas com os pesquisadores, entrar em contato com Renata Rodrigues: renatarodrigues@novo2025.igarape.org.br (21)980382376