Igarapé na COP 30: construindo um planeta mais justo e sustentável

 

O Brasil se prepara para receber a COP30, em Belém do Pará, em um momento crucial para a agenda do clima de natureza. Para o Instituto Igarapé, a conferência em território amazônico é a oportunidade de transformar o simbolismo em ação: trazer a floresta para a discussão sobre clima e enfrentar o crime ambiental que a ameaça, fortalecer o multilateralismo e apresentar soluções que unam bioeconomia, finanças para a natureza e cooperação internacional na luta pelo equilíbrio climático. É com esses propósitos que o instituto percorreu o Brasil e o mundo, em 2025, levando propostas para debates fundamentais de Davos a Londres, Nairobi a Bonn, Bogotá a Sevilha, preparando o terreno para que a COP30 seja um marco de mudança.


Nossa atuação se baseia nos seguintes pilares: 

 

1. Promover ação coletiva para o enfrentamento a crimes ambientais como pilar fundamental da meta do desmatamento zero e o Acordo de Paris;

2. Contribuir para o fortalecimento do multilateralismo e da governança climática, promovendo as sinergias entre as convenções de clima e biodiversidade;

3. Fortalecer as soluções baseadas na natureza como soluções climáticas e fomentar inovações em finanças para a natureza e o clima;

4. Promover diálogos inspiradores e catalisadores de ação em parceria com a Casa TED, levando o melhor do Brasil para o mundo e trazendo o melhor do mundo para o Brasil.

 

Confira cada uma delas:

1. Por que precisamos falar sobre crime ambiental  na COP30?

Os crimes ambientais impulsionam o desmatamento ilegal, a perda de biodiversidade e a mudança no uso da terra em países detentores de florestas tropicais e em outros biomas ricos em recursos naturais. Eles são alimentados por mercados ilícitos interconectados dominados por organizações criminosas que atuam além-fronteiras. 

Como resultado, grandes sumidouros de carbono do mundo, como a floresta Amazônica, estão se tornando emissores líquidos de carbono, contribuindo e acelerando as mudanças climáticas.



O impacto do desmatamento ilegal no Brasil

O Brasil é o 5º maior emissor de gases de efeito estufa (GEE) do mundo.

46% de suas emissões vêm do desmatamento,¹ na Amazônia, pelo menos 91% do desmatamento é ilegal.² 

    As mudanças climáticas, por sua vez, geram um ciclo vicioso. Com o aumento da temperatura, redução da umidade do solo e do ar e a intensificação de eventos climáticos extremos – como incêndios florestais, inundações e secas – as florestas e a natureza são ainda mais fragilizadas.

    60% da Amazônia está no Brasil³, uma das maiores áreas de absorção de carbono do planeta.

    Mas o desmatamento recorde está levando a floresta ao ponto de não-retorno.⁴

    Os crimes ambientais já são a terceira maior economia ilícita do mundo:  movimentam, globalmente, até US$ 280 bilhões por ano, superando os lucros do tráfico de pessoas e do comércio ilegal de armas, segundo a Força-Tarefa de Ação Financeira⁵.
    Para cumprir suas metas climáticas e de biodiversidade (NDC e NBSAP), o Brasil precisa alcançar o desmatamento zero na Amazônia e em outros biomas e restaurar rapidamente 12 milhões de hectares de terras degradadas.

    A situação se torna ainda mais grave quando colocamos em perspectiva que a Bacia Amazônica está próxima de um ponto de inflexão, ou seja, de não-retorno:


    >+6.700.000 km² de floresta tropical, com aproximadamente 61% localizada na “Amazônia Legal” do Brasil;³
    >18% da Amazônia Legal brasileira já foi desmatada (até setembro de 2023);⁶
    >20–25% é o limite estimado de perda da floresta primária que pode induzir um ponto de inflexão;
    >+91% do desmatamento na Amazônia é ilegal;²
    >31% da Amazônia Legal oriental já foi desmatada (até setembro de 2022).

     

    O Brasil, que já assumiu o desmatamento zero e o restauro ecológico como compromissos centrais de suas metas climáticas e de biodiversidade, precisa alavancar a presidência da COP30 para dar um passo além: colocar o enfrentamento aos crimes ambientais no centro da ação climática, mobilizando apoio e capital internacionais.

     

    2. Por que reforçar a importância do multilateralismo na COP30

    O fortalecimento do multilateralismo é um dos pilares centrais da atuação do Instituto Igarapé na COP30. Vivemos um momento de crises sobrepostas: 2024 foi o primeiro ano em que a temperatura média global superou 1,5ºC, mas o financiamento climático continua lento, e há risco de retrocessos em compromissos internacionais. Nesse cenário, a COP30, em Belém, pode marcar um ponto de virada. O Brasil, como presidente da conferência, tem a oportunidade de liderar uma coalizão global para oferecer soluções e compromissos emergenciais e estruturantes no marco do roadmap “Baku-Belém”, que visa mobilizar USD 1.3 trilhão de dólares anuais até 2035 para países em desenvolvimento.

    US$ 1,3 trilhão é quanto falta de financiamento climático para países em desenvolvimento.

    Hoje, faltam US$ 700 bilhões por ano em financiamento para biodiversidade.¹⁰

     O Instituto Igarapé atuará para que a COP30 seja lembrada como a conferência que aproximou a agenda do clima e da natureza e traduziu essa integração em resultados concretos. Isso significa:

    Contribuir para reimaginar a governança global como parte de um esforço mais amplo de revitalização do multilateralismo em tempos de crises múltiplas. A partir da proposta do presidente Lula no G20 em 2024, sugerimos explorar um modelo integrado que una clima e natureza em um mesmo arcabouço de governança, um “Conselho Global de Clima e Natureza” nas Nações Unidas, fundamentado em ciência do sistema terrestre, governança múltipla, um multilateralismo em rede e pensamento sistêmico para alinhar o financiamento climático às soluções que realmente respondem à complexidade da crise.

    Promover diálogos estruturados entre as três convenções do Rio (clima, biodiversidade e desertificação), reforçando a visão de que não há solução climática sem natureza, nem desenvolvimento sustentável sem bioeconomia inclusiva.

    Reforçar a necessidade de realinhar o sistema financeiro internacional, defendendo reformas nos bancos multilaterais de desenvolvimento e a criação de mecanismos inovadores que conectem financiamento climático, natureza e desenvolvimento sustentável.

    Construir pontes políticas entre os processos multilaterais de 2025, da conferência de financiamento em Sevilha à COP30 em Belém e ao G20 em Joanesburgo, posicionando o Brasil como articulador de uma nova geopolítica climática e como influência responsável e ambiciosa dentro do BRICS.

    Nosso objetivo é claro: aproveitar a presidência brasileira da COP30 para impulsionar uma ação global mais ambiciosa, inclusiva e capaz de integrar clima, natureza e desenvolvimento.

     

    3. Natureza como solução climática e finanças inovadoras para a natureza e o clima

    O Brasil pode se tornar uma superpotência da natureza, mas, para isso, é preciso ter coragem para sair de um modelo econômico que destrói e exclui para um modelo de desenvolvimento sustentável, com qualidade de vida e justiça social.

     

    Afinal, o  Brasil detém:

    15–20% da biodiversidade global.¹¹

    12% de toda a água doce da superfície da Terra.¹²

    >30% das florestas tropicais primárias do mundo.¹³

     

    Oportunidades: mercados em crescimento de créditos de carbono e reflorestamento

    4 bilhões de toneladas de CO₂ disponíveis para sequestro por meio da restauração florestal.¹

    12 milhões de hectares de florestas degradadas a serem restauradas para a NDC do Brasil até 2030.¹⁵

    US$ 156 bilhões em potencial de receita ao longo de 30 anos com produtos cultivados nesses 12 milhões de hectares restaurados.¹⁶

     

    Uma bioeconomia inexplorada com potencial global

    US$ 593 bilhões adicionados anualmente ao PIB brasileiro pela bioeconomia até 2050.¹

    29 bilhões de toneladas de CO₂eq reduzidas até 2050.¹

    80% das metas de neutralidade de carbono até 2050 potencialmente mitigadas por Soluções Baseadas na Natureza (SbN).¹

    Mas como atrair investimentos verdes?

    O Green Bridge Facility (GBF) é uma iniciativa do Instituto Igarapé para reduzir riscos nos territórios, expandir empreendimentos verdes e destravar investimentos responsáveis no Brasil e na Bacia Amazônica. O objetivo é gerar impacto social e contribuir para o desmatamento zero, rumo a um futuro nature positive, enfrentando barreiras críticas ao ambiente de negócios sustentável, como insegurança fundiária, informalidade nas cadeias produtivas, economias ilícitas e complexidade regulatória.

    A metodologia “Conheça Seu Território” (Know Your Territory) aplica uma abordagem sistêmica que permite que o capital chegue, permaneça e prospere. A partir dela, foi criada uma plataforma de mesmo nome, KYT, que será lançada na COP30, com o objetivo de apoiar tomadores de decisão, especialmente de  Soluções baseadas na natureza (SbN), a avaliar riscos e oportunidades territoriais. A avaliação é feita em seis dimensões, tanto no nível de paisagem quanto no de projetos, reduzindo custos operacionais, financeiros e reputacionais para investidores e empreendedores. 

     

    Por que precisamos falar sobre capital natural e créditos de biodiversidade na COP30

    Soluções baseadas na natureza, incluindo a restauração, são cada vez mais reconhecidas como estratégias eficazes para mitigar as mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, gerar valor ambiental, social e econômico. No entanto, como acontece em mercados emergentes, ainda enfrentam barreiras críticas: financiamento limitado, alta percepção de risco e a falta de integração do valor da natureza nos modelos econômicos e financeiros.

    Para enfrentar de forma duradoura as crises climática e de biodiversidade, é essencial que governos, empresas e instituições financeiras reconheçam o valor da natureza.  Integrar o capital natural como parte central das decisões econômicas, financeiras e de políticas públicas, ou seja, o mainstreaming do capital natural, é passo fundamental para alinhar o sistema financeiro à estabilidade ecológica de longo prazo. Esse processo permite demonstrar como a natureza sustenta a resiliência econômica, a mitigação climática, a segurança alimentar e a saúde pública. Mais de 50% do PIB global depende desses sistemas. Por isso, é preciso integrar o valor da natureza às decisões econômicas e políticas para garantir prosperidade de longo prazo.¹ 

    Nesse movimento, os créditos de carbono seguem sendo parte central da resposta global, mas é necessário ir além do carbono. Créditos de biodiversidade emergem como um instrumento complementar e inovador para direcionar capital diretamente a resultados de conservação e restauração. Eles oferecem meios de promover modelos de negócios nature-positive, criar incentivos claros para a proteção de ecossistemas e assegurar compensação justa a povos indígenas e comunidades locais — guardiões fundamentais da biodiversidade.

    O Instituto Igarapé tem contribuído ativamente para esse debate no âmbito do International Advisory Panel on Biodiversity Credits (IAPB) e no Conselho do Futuro Global sobre Capital Natural do World Economic Forum, que reúne especialistas globais para estabelecer princípios e salvaguardas capazes de garantir integridade, transparência e impacto desses mercados.

    A COP30 em Belém será a oportunidade de acelerar essa agenda, conectando capital natural e créditos de biodiversidade como pilares de uma transição que una prosperidade econômica, justiça social e equilíbrio climático.

     

    Na trilha para a COP 30

    Na rota Baku-Belém, o Instituto Igarapé liderou o debate e apresentou propostas e soluções para a crise climática e de perda de biodiversidade nos principais eventos mundiais sobre clima. Estivemos, por exemplo, em Davos, Bonn, Sevilha e Londres.

    Além disso, como parceiros organizacionais, ajudamos a construir o TEDx em Belém, falamos no TED Countdown, em Nairobi,²⁰ e somos parceiros da Casa TED, em Belém, que acontece durante a COP30. 

     

    Referências:

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